A prática do xamanismo entre os Kaingang do Brasil meridional: uma breve comparação com o xamanismo Bororo
Os Kaingang, uma sociedade ameríndia da família lingüística Jê, habitantes do sul do Brasil, possuem xamãs, nomeados de kuiã, que provêem de somente uma metade (a metade Kamé) e que dispõem de um animal-auxiliar associado a sua metade de origem. No plano sociológico, tudo se passa como se o xamanism...
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Veröffentlicht in: | Horizontes antropológicos 2002-12, Vol.8 (18), p.113-129 |
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1. Verfasser: | |
Format: | Artikel |
Sprache: | eng |
Schlagworte: | |
Online-Zugang: | Volltext |
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Zusammenfassung: | Os Kaingang, uma sociedade ameríndia da família lingüística Jê, habitantes do sul do Brasil, possuem xamãs, nomeados de kuiã, que provêem de somente uma metade (a metade Kamé) e que dispõem de um animal-auxiliar associado a sua metade de origem. No plano sociológico, tudo se passa como se o xamanismo kaingang envolvesse uma metade, que se ocupa, sem partilha ou complementaridade com a outra metade, de sua prática. Este fato contrasta com os outros aspectos da vida ritual kaingang que se caracteriza pela obrigatoriedade complementar entre os membros das metades kamé e kairu. De um ponto de vista comparativo, o caso Kaingang difere da assimetria e da necessária complementaridade existente entre os Bororo, entre os xamãs bope, quase sempre da metade tugarege, e xamãs aroe, que são quase sempre da metade exarae. Bope e aroe são complementos inversos um do outro que definem os pólos ideológicos da sociedade bororo. Em contraste, o xamanismo kaingang parece corresponder à forma restrita do princípio hierárquico que concebe uma oposição cujos componentes estão ligados por uma relação de contrariedade, a oposição hierárquica, definida como uma relação englobante-englobado. Um dos termos (kamé) é idêntico ao todo e engloba o outro (kairu). O dualismo permite o engendramento de contrastes úteis em função dos contextos muito variados e mutáveis, contrastes que são construídos a partir de princípios simples: o idêntico e o diferente, o uno e o múltiplo, o centro e a periferia, o masculino e o feminino, o alto e o baixo, etc. No plano de uma sociedade de organização dualista - como o caso dos Kaingang e Bororo demonstram - é importante determinar a relação respectiva das metades afim de compreender seu papel complementar e assimétrico na constituição da instituição da prática xamânica. Este estudo demonstra a urgência e o interesse de estender a comparação às outras sociedades Jê.
The Kaingang are an Amerindian society, of the Jê linguistic group, who live in the southern region of Brazil. Among the Kaingang there are shamans, called kuiã, who arise only from one portion, the Kamé moiety, and who have an auxiliary animal associated to their original group. It is as if the Kaingang shamanism involved, on the sociological level, one half of the group, a moiety that is solely occupied, without any complementarity or sharing, with the field of practice. Such a division is in stark contrast with all other ritual aspects of the Kaingang, for their rituals are characterized b |
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ISSN: | 0104-7183 0104-7183 1806-9983 |
DOI: | 10.1590/S0104-71832002000200005 |