Corpos colonizados: Recursos com paisagem em fundo. Uma agenda de pesquisa

A fotografia dos corpos colonizados visava registar os estigmas raciais que os caraterizavam à luz da antropobiologia portuguesa decalcada da matriz norte-europeia, mas revista e adaptada à exploração colonial. O estudo concentrou-se no cálculo da inteligência no sentido de avaliar da sua assi...

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Veröffentlicht in:Vista (Lisboa) 2019-12 (5), p.101-126
Hauptverfasser: Cascais, António Fernando, Gomes da Costa, Mariana
Format: Artikel
Sprache:eng ; por
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Beschreibung
Zusammenfassung:A fotografia dos corpos colonizados visava registar os estigmas raciais que os caraterizavam à luz da antropobiologia portuguesa decalcada da matriz norte-europeia, mas revista e adaptada à exploração colonial. O estudo concentrou-se no cálculo da inteligência no sentido de avaliar da sua assimilabilidade, na mensuração antropométrica e ergográfica com o fim do aproveitamento de mão-de-obra e na deteção de patologias que a podiam comprometer ou ser transmissíveis aos colonizadores. As populações colonizadas foram integradas como material humano no quadro geral do levantamento e exploração de recursos naturais, flora, fauna, minérios, culturas agrícolas, de tal modo que a serviçalidade dos seus corpos funcionou como mediadora da relação do colonizador com a paisagem natural dos territórios ocupados. Integral ao processo de racialização indispensável ao sucesso da empresa colonizadora, o registo fotográfico não só constituiu um documento do arquivo colonial português, como um instrumento epistemopolítico do dolo infligido pela colonização às suas vítimas históricas, desde logo como operador da construção do Outro racial exotizado que, ao definir o limiar em que o primata devém humano, traça por aí mesmo a fronteira inultrapassável pelas raças inferiores, patente nos estigmas físicos e psíquicos que indiciam a sua ancestralidade simiesca. Esta indiciologia fotográfica foi fundamental para a justificação e legitimação do “fardo do homem branco” luso, traduzido nos termos próprios da sua missão civilizadora, assumida como desígnio histórico secular que, a partir do diferendo do “mapa cor-de-rosa” e do empenhamento na Primeira Guerra Mundial, se alcandorou a pugna pela salvaguarda da identidade e da independência nacional. The photography of the colonized bodies purported to record the racial stigmata that character- ized them under the light of the Portuguese Anthropobiology moulded after the northern-european paradigm, but duly revised and adapted from the standpoint of the Portuguese colonial exploration. The study focused on the measurement of indigenous intelligence in order to evaluate their susceptibility to assimilation, on the anthropometric and ergographic evaluation in order to make good use of labour force and on the detection of pathologies that might jeopardize it or be transmissible to settlers. The colonized populations were integrated as human material in the overall framework of survey of
ISSN:2184-1284
2184-1284
DOI:10.21814/vista.3042