PARACOCCIDIOIDOMICOSE E COMPRESSÃO MEDULAR: UMA RARA ASSOCIAÇÃO

A Paracoccidioidomicose (PBmicose) é a micose sistêmica mais prevalente no Brasil, acometendo majoritariamente homens procedentes de áreas rurais. A infecção se dá por inalação do fungo, seguida de disseminação linfohematogênica no organismo do hospedeiro. Após, o fungo pode se instalar em qualquer órgão ou tecido, sendo mais frequente a pele, mucosas e os pulmões. Relatamos aqui um raro caso de PBmicose subaguda com acometimento principalmente em coluna dorsal, apresentando-se clinicamente com síndrome de compressão medular, em uma mulher de meia-idade vinda de área urbana. Trata-se de uma mulher, 57 anos, natural do Rio Grande do Sul e procedente de Itapecerica da Serra (SP), há 30 anos. Trabalhou como recepcionista e nega ter vivido em área rural. Refere início de hábito de jardinagem em seu domicílio há dois anos. Procurou atendimento médico em serviço externo em setembro/2022, devido a cervicalgia e sensação de parestesia em MMSS há alguns meses com piora progressiva. É transferida HCFMUSP devido a síndrome de compressão medular para continuidade de cuidados com a neurocirurgia. Ressonância magnética de coluna total, realizada em 27/09, com lesão extensa de partes moles com colapso do corpo vertebral de D5, com áreas necróticas e liquefeitas, além de infiltração por contiguidade dos corpos vertebrais de D4 e D6. Outros exames de imagem mostravam múltiplas linfonodomegalias abdominais com liquefação central, além de lesões focais em baço e tireoide. Com principal hipótese no momento de neoplasia hematológica, foi realizada biópsia de partes moles da lesão em região cervical posterior em 03/10. Sete dias após, apresentou choque séptico de foco abdominal, sendo transferida para UTI de infectologia do HCFMUSP. Nessa ocasião, sai o resultado anatomopatológico da biópsia com presença de múltiplas estruturas fúngicas, compatíveis com Paracoccidioides brasiliensis. Apesar da introdução de antimicrobianos e antifúngico, e medidas de suporte hemodinâmico, a paciente evoluiu à óbito 18 horas após a admissão na UTI. Comprometimento vertebral associado a lesão linfonodal e tireoidiana é forma rara de PBmicose em mulheres adultas imunocompetentes. Esse diagnóstico diferencial deve ser lembrado em pessoas de áreas endêmicas.