Vulnerabilidades compartilhadas: de grupos corporados a espiritual-funcionalismo entre os saamaka do Suriname
Os afro-amazônicos saamaka, do Suriname, falam sobre diversos modos de agência dos mortos. Dentre elas, os kunu, espíritos vingativos que operam matrilateralmente; e os neseki, padrinhos espirituais que amiúde operam patrilateralmente. De certo modo, ambos podem aproximar pessoas que compartilham vu...
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Veröffentlicht in: | Etnográfica (Oeiras, Portugal) Portugal), 2023, Vol.27(3), p.761-781 |
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1. Verfasser: | |
Format: | Artikel |
Sprache: | eng |
Online-Zugang: | Volltext |
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Zusammenfassung: | Os afro-amazônicos saamaka, do Suriname, falam sobre diversos modos de agência dos mortos. Dentre elas, os kunu, espíritos vingativos que operam matrilateralmente; e os neseki, padrinhos espirituais que amiúde operam patrilateralmente. De certo modo, ambos podem aproximar pessoas que compartilham vulnerabilidades: ser vítima potencial dos mesmos kunu é o que faz das pessoas membros de suas matrilinhagens; possuir o mesmo neseki significa ser afetado pelos mesmos tabus alimentares. Estar sujeito aos mesmos perigos ajuda a criar, por contraefetuação, relações de proteção mútua, que podem ou não gerar algo como grupos sociais. Uma teoria saamaka da corporalidade e da corporação, poderia ser, assim, chamada de espiritual-funcionalista. Afinal, suas ideias ressoam ironicamente com conceitos da antropologia clássica (grupos corporados, filiação complementar), mas vão na contramão das teorias funcionalistas, ao dar mais peso à agência dos mortos do que a estruturas sociais.
The saamaka Mmroons of Suriname speak of many modes of agency of the dead. Among them, the kunu, avenging spirits which act matrilaterally, and the neseki, spiritual godparents which often act patrilaterally. In a way, both are able to connect people through their shared vulnerabilities – being potential victims of the same kunu makes people belong to their matrilineages; having the same neseki means having the same food taboos. Being exposed to the same dangers helps to counter-actualise relations of mutual protection, which may or may not create something like social groups. A saamaka theory of corporeality and corporation may thus be described as a kind of spiritual-functionalism, as their ideas ironically resonate with concepts central to classic anthropology (such as corporate groups and complementary filiation). However, different from functionalist theories, here spirits are deemed much more relevant than the agency of social structures. |
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ISSN: | 0873-6561 2182-2891 |
DOI: | 10.4000/etnografica.14196 |