O Mito Trágico de Salvador Dalí

Este artigo propõe uma leitura crítica da autoanálise esboçada por Salvador Dalí na obra “O mito trágico do Angelus de Millet” à luz da interpretação de uma dinâmica familiar sob o primado da fantasia do infans de substituição. Sugere-se que esta narrativa, elaborada segundo o método paranoico-críti...

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Veröffentlicht in:Interacções (Coimbra, Portugal) Portugal), 2019-12 (37), p.108-143
Hauptverfasser: Ferreira, Nuno Pinto, Farate, Carlos, Vicente, Henrique Testa
Format: Artikel
Sprache:eng
Online-Zugang:Volltext
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Zusammenfassung:Este artigo propõe uma leitura crítica da autoanálise esboçada por Salvador Dalí na obra “O mito trágico do Angelus de Millet” à luz da interpretação de uma dinâmica familiar sob o primado da fantasia do infans de substituição. Sugere-se que esta narrativa, elaborada segundo o método paranoico-crítico, sobrepõe mito pessoal e ficção, alegoria omnipotente e reinterpretação delirante da saga familiar trágica, de uma díade mãe-filho permeada pela evocação histórica do “resgate” fantasmático de um irmão morto nove meses antes do seu nascimento. Foram triangulados excertos do texto sobre o Angelus, dados biográficos e aportes de Bion sobre a importância dos mitos privados na construção da identidade. Conclui-se que Dalí ensaiou a aproximação a outra dimensão do imago materno, que os outros escritos e atos autobiográficos aparentam contradizer, mais precisamente a Mãe Antígona que “enterra” o corpo do filho in statu nascendi sob o olhar cúmplice e impotente do pai. Realça-se a importância de Gala como figura da Anunciação de destino trágico-grandioso, segundo a mística bíblica do “Filho Unigénito do Pai”, solução romanceada, de cariz surrealista e delirante, para aquela que terá sido a problemática central da sua existência, a condição de criança de substituição de um Outro temido e desconhecido.
ISSN:0873-0725
2184-3929
DOI:10.31211/interacoes.n37.2019.a5