“Arrote e coma você mesmo”: elementos da carnavalização na canção “Padaria Espiritual”, de Ednardo

O principal objetivo desse artigo é examinar o discurso carnavalizado na canção “Padaria Espiritual”, que compõe o álbum “Berro” (1976), do cantor Ednardo. Assim, baseando-nos nas categorias da percepção carnavalesca do mundo propostas por Bakhtin (1987; 2014; 2015) e na sua concepção de corpo grotesco (Bakhtin, 1987), analisaremos a referida canção, que mantém relações dialógicas explícitas, já no título, com uma importante agremiação literária que trouxe, de maneira inovadora, subversiva e galhofeira, importantes “questões de espírito” para a província cearense no período de transição do Brasil monárquico para o republicano. Da análise da obra, percebemos que a canção do cantor e compositor cearense exalta o projeto ético/estético do grêmio beletrista cearense, por meio de elementos discursivos da carnavalização, como a presença da palavra ambivalente e excêntrica, do discurso irônico e do corpo grotesco, em especial, nesse caso, da imagem da boca aberta que berra, que protesta e que come a fim de manter, num gesto transgressivo e subversivo, esse corpo vivo e aberto para o mundo social exterior do qual faz parte materialmente.