Modulações em português de imagens, experiências e estesias orientais: revisão das razões do fascínio de alguma dicção poética chinesa e japonesa como utopia da poesia
Resumo O fascínio do Ocidente pela dicção poética oriental está atestado em várias latitudes e línguas, e resultou numa profícua produção na área da poesia. Sabe-se que a reinvenção da poesia chinesa da autoria de Pound, em grande medida na origem da sua proposta de revolução do idioma poético, nas...
Gespeichert in:
Veröffentlicht in: | Alea : estudos neolatinos 2022-08, Vol.24 (2), p.232-259 |
---|---|
1. Verfasser: | |
Format: | Artikel |
Sprache: | por |
Schlagworte: | |
Online-Zugang: | Volltext |
Tags: |
Tag hinzufügen
Keine Tags, Fügen Sie den ersten Tag hinzu!
|
container_end_page | 259 |
---|---|
container_issue | 2 |
container_start_page | 232 |
container_title | Alea : estudos neolatinos |
container_volume | 24 |
creator | Borges, Vera |
description | Resumo O fascínio do Ocidente pela dicção poética oriental está atestado em várias latitudes e línguas, e resultou numa profícua produção na área da poesia. Sabe-se que a reinvenção da poesia chinesa da autoria de Pound, em grande medida na origem da sua proposta de revolução do idioma poético, nas primeiras décadas do séc. XX, assentou, na verdade, numa falácia; numa concepção errada da natureza da escrita chinesa (e japonesa) como essencialmente pictográfica e ideogramática, na base de propriedades expressivas reconhecidas na poesia que resultariam numa particular eficácia na apreensão e tradução do real. Pessanha enaltece, em termos similares aos da exaltação poundiana, a escrita da poesia chinesa clássica. Interessa-nos rever alguns inventários dos traços da dicção poética chinesa e japonesa que explicam que ela seja tomada como metonímia e metáfora da poesia, ou como meta e utopia da poesia, para perceber o que terá levado autores muito díspares a tentar a mão nos haikus, processo em que sondaremos algumas formulações poéticas em língua portuguesa. Consideramos também que esse fascínio por uma (sonhada) origem da dicção poética, quando cruzada com o habitar (não metafórico, neste caso) do pequenino enclave de Macau, de autores que nele lançaram raízes, resultou em alguns exercícios poéticos particularmente felizes e singulares. Serão trazidos à colação nesta abordagem poemas de Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner Andresen, José Tolentino Mendonça, Yao Feng, Fernanda Dias e Fernando Sales Lopes.
Abstract Western fascination for Eastern poetic diction is vastly documented, in several latitudes and languages, and has resulted in an impressive output in the field of poetry. It is known that Pound’s reinvention of Chinese poetry, largely at the origin of his proposal for a revolution in the poetic language, in the first decades of the 20th century, was actually based on a fallacy: on a misconception of the nature of Chinese (and Japanese) writing as essentially pictographic and ideogrammatic, based on expressive properties recognized in poetry that would prove to be particularly effective in the apprehension and translation of the real. Pessanha praises the writing of classical Chinese poetry in terms similar to the Poundian exaltation. We will review some inventories of the features of Chinese and Japanese poetic diction that explain why it is taken as a metonymy and metaphor of poetry, or as a goal and utopia of poetry, in order to understand wha |
doi_str_mv | 10.1590/1517-106x/202224213 |
format | Article |
fullrecord | <record><control><sourceid>scielo_cross</sourceid><recordid>TN_cdi_scielo_journals_S1517_106X2022000200232</recordid><sourceformat>XML</sourceformat><sourcesystem>PC</sourcesystem><scielo_id>S1517_106X2022000200232</scielo_id><sourcerecordid>S1517_106X2022000200232</sourcerecordid><originalsourceid>FETCH-LOGICAL-c1283-d0b13a99d45d0f4072d1acb1f50b3dfe2db6e6f8e2d68521f5c035fe5c3d4b3d3</originalsourceid><addsrcrecordid>eNo9kc1KxDAUhYsoOI4-gZs8gHXy0193MvgHIy5UcFfS5HbM0DYlaWX0dVyIAy5c-AR9MdOZ0UXI4fKdc-Fczzsm-JSEKZ6QkMQ-wdFyQjGlNKCE7XgjkuDYxzRNd53eEk_73oG1C4xZTAI68r5vtexK3n_0P2ARVKjRpu3mXb-ySAJSFZ9DbU8QLBswql_VQnHHIbAt2EFqo6BuubJnyMCLsv27RtLNDX9bR0qNCm5F_1UrPSTyct5VHEkl3E7HNrr_bJXgSDyrGix32Qve6LUUutKoa3WjnIE7dFh56O0VvLRwtP3H3uPlxcP02p_dXd1Mz2e-IDRhvsQ5YTxNZRBKXAQ4ppJwkZMixDmTBVCZRxAViRNRElI3F5iFBYSCycARbOydbnKtUFDqbKE7U7uF2f3QZTZ0OZSNMXaPMuoMbGMQRltroMga4_ozr47NhjNlf8Zl9n8m9gs8Io6U</addsrcrecordid><sourcetype>Open Access Repository</sourcetype><iscdi>true</iscdi><recordtype>article</recordtype></control><display><type>article</type><title>Modulações em português de imagens, experiências e estesias orientais: revisão das razões do fascínio de alguma dicção poética chinesa e japonesa como utopia da poesia</title><source>Elektronische Zeitschriftenbibliothek - Frei zugängliche E-Journals</source><creator>Borges, Vera</creator><creatorcontrib>Borges, Vera</creatorcontrib><description>Resumo O fascínio do Ocidente pela dicção poética oriental está atestado em várias latitudes e línguas, e resultou numa profícua produção na área da poesia. Sabe-se que a reinvenção da poesia chinesa da autoria de Pound, em grande medida na origem da sua proposta de revolução do idioma poético, nas primeiras décadas do séc. XX, assentou, na verdade, numa falácia; numa concepção errada da natureza da escrita chinesa (e japonesa) como essencialmente pictográfica e ideogramática, na base de propriedades expressivas reconhecidas na poesia que resultariam numa particular eficácia na apreensão e tradução do real. Pessanha enaltece, em termos similares aos da exaltação poundiana, a escrita da poesia chinesa clássica. Interessa-nos rever alguns inventários dos traços da dicção poética chinesa e japonesa que explicam que ela seja tomada como metonímia e metáfora da poesia, ou como meta e utopia da poesia, para perceber o que terá levado autores muito díspares a tentar a mão nos haikus, processo em que sondaremos algumas formulações poéticas em língua portuguesa. Consideramos também que esse fascínio por uma (sonhada) origem da dicção poética, quando cruzada com o habitar (não metafórico, neste caso) do pequenino enclave de Macau, de autores que nele lançaram raízes, resultou em alguns exercícios poéticos particularmente felizes e singulares. Serão trazidos à colação nesta abordagem poemas de Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner Andresen, José Tolentino Mendonça, Yao Feng, Fernanda Dias e Fernando Sales Lopes.
Abstract Western fascination for Eastern poetic diction is vastly documented, in several latitudes and languages, and has resulted in an impressive output in the field of poetry. It is known that Pound’s reinvention of Chinese poetry, largely at the origin of his proposal for a revolution in the poetic language, in the first decades of the 20th century, was actually based on a fallacy: on a misconception of the nature of Chinese (and Japanese) writing as essentially pictographic and ideogrammatic, based on expressive properties recognized in poetry that would prove to be particularly effective in the apprehension and translation of the real. Pessanha praises the writing of classical Chinese poetry in terms similar to the Poundian exaltation. We will review some inventories of the features of Chinese and Japanese poetic diction that explain why it is taken as a metonymy and metaphor of poetry, or as a goal and utopia of poetry, in order to understand what led very different authors to try their hand at haikus. Along this process, we will probe some poetic formulations in Portuguese. We also consider that this fascination with a (dreamed of) origin of poetic diction resulted in very interesting poems, when crossed with the (non-metaphorical, in this case) inhabiting of the tiny enclave of Macau, by authors who settled there. In this approach we will comment on poems by Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner, José Tolentino Mendonça, Yao Feng, Fernanda Dias and Fernando Sales Lopes.
Resumen La fascinación occidental por la dicción poética oriental está atestiguada, en diversas latitudes y lenguas, y se tradujo en una fructífera producción en el campo de la poesía. Se sabe que la reinvención de la poesía china por parte de Pound, en gran parte en el origen de su propuesta de revolución del lenguaje poético, en las primeras décadas del siglo XX, se basó en realidad en una falacia: en una concepción errónea de la naturaleza de la escritura china (y japonesa) como esencialmente pictográfica e ideogramática, basada en propiedades expresivas reconocidas en la poesía que redundarían en una particular eficacia en la aprehensión y traducción de lo real. Pessanha exalta, en términos similares a la exaltación de Pound, la escritura de la poesía clásica china. Nos interesa revisar algunos inventarios de los rasgos de la dicción poética china y japonesa que explican por qué se toma como metonimia y metáfora de la poesía, o como meta y utopía de la poesía, para comprender qué llevó a muy diferentes autores a intentarlo en haikus, proceso en el que probaremos algunas formulaciones poéticas en portugués. Consideramos también que esta fascinación por un origen (soñado) de la dicción poética, al cruzarse con el habitar (no metafórico, en este caso) del diminuto enclave de Macao, por parte de autores que en él arraigaron, resultó en poemas particularmente interesantes. En este acercamiento se traerán poemas de Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner, José Tolentino Mendonça, Yao Feng, Fernanda Dias y Fernando Sales Lopes.</description><identifier>ISSN: 1517-106X</identifier><identifier>ISSN: 1807-0299</identifier><identifier>EISSN: 1807-0299</identifier><identifier>DOI: 10.1590/1517-106x/202224213</identifier><language>por</language><publisher>Programa de Pos-Graduação em Letras Neolatinas, Faculdade de Letras -UFRJ</publisher><subject>LITERATURE, ROMANCE</subject><ispartof>Alea : estudos neolatinos, 2022-08, Vol.24 (2), p.232-259</ispartof><rights>This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.</rights><lds50>peer_reviewed</lds50><oa>free_for_read</oa><woscitedreferencessubscribed>false</woscitedreferencessubscribed><orcidid>0000-0003-3893-7360</orcidid></display><links><openurl>$$Topenurl_article</openurl><openurlfulltext>$$Topenurlfull_article</openurlfulltext><thumbnail>$$Tsyndetics_thumb_exl</thumbnail><link.rule.ids>230,314,776,780,881,27901,27902</link.rule.ids></links><search><creatorcontrib>Borges, Vera</creatorcontrib><title>Modulações em português de imagens, experiências e estesias orientais: revisão das razões do fascínio de alguma dicção poética chinesa e japonesa como utopia da poesia</title><title>Alea : estudos neolatinos</title><addtitle>Alea</addtitle><description>Resumo O fascínio do Ocidente pela dicção poética oriental está atestado em várias latitudes e línguas, e resultou numa profícua produção na área da poesia. Sabe-se que a reinvenção da poesia chinesa da autoria de Pound, em grande medida na origem da sua proposta de revolução do idioma poético, nas primeiras décadas do séc. XX, assentou, na verdade, numa falácia; numa concepção errada da natureza da escrita chinesa (e japonesa) como essencialmente pictográfica e ideogramática, na base de propriedades expressivas reconhecidas na poesia que resultariam numa particular eficácia na apreensão e tradução do real. Pessanha enaltece, em termos similares aos da exaltação poundiana, a escrita da poesia chinesa clássica. Interessa-nos rever alguns inventários dos traços da dicção poética chinesa e japonesa que explicam que ela seja tomada como metonímia e metáfora da poesia, ou como meta e utopia da poesia, para perceber o que terá levado autores muito díspares a tentar a mão nos haikus, processo em que sondaremos algumas formulações poéticas em língua portuguesa. Consideramos também que esse fascínio por uma (sonhada) origem da dicção poética, quando cruzada com o habitar (não metafórico, neste caso) do pequenino enclave de Macau, de autores que nele lançaram raízes, resultou em alguns exercícios poéticos particularmente felizes e singulares. Serão trazidos à colação nesta abordagem poemas de Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner Andresen, José Tolentino Mendonça, Yao Feng, Fernanda Dias e Fernando Sales Lopes.
Abstract Western fascination for Eastern poetic diction is vastly documented, in several latitudes and languages, and has resulted in an impressive output in the field of poetry. It is known that Pound’s reinvention of Chinese poetry, largely at the origin of his proposal for a revolution in the poetic language, in the first decades of the 20th century, was actually based on a fallacy: on a misconception of the nature of Chinese (and Japanese) writing as essentially pictographic and ideogrammatic, based on expressive properties recognized in poetry that would prove to be particularly effective in the apprehension and translation of the real. Pessanha praises the writing of classical Chinese poetry in terms similar to the Poundian exaltation. We will review some inventories of the features of Chinese and Japanese poetic diction that explain why it is taken as a metonymy and metaphor of poetry, or as a goal and utopia of poetry, in order to understand what led very different authors to try their hand at haikus. Along this process, we will probe some poetic formulations in Portuguese. We also consider that this fascination with a (dreamed of) origin of poetic diction resulted in very interesting poems, when crossed with the (non-metaphorical, in this case) inhabiting of the tiny enclave of Macau, by authors who settled there. In this approach we will comment on poems by Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner, José Tolentino Mendonça, Yao Feng, Fernanda Dias and Fernando Sales Lopes.
Resumen La fascinación occidental por la dicción poética oriental está atestiguada, en diversas latitudes y lenguas, y se tradujo en una fructífera producción en el campo de la poesía. Se sabe que la reinvención de la poesía china por parte de Pound, en gran parte en el origen de su propuesta de revolución del lenguaje poético, en las primeras décadas del siglo XX, se basó en realidad en una falacia: en una concepción errónea de la naturaleza de la escritura china (y japonesa) como esencialmente pictográfica e ideogramática, basada en propiedades expresivas reconocidas en la poesía que redundarían en una particular eficacia en la aprehensión y traducción de lo real. Pessanha exalta, en términos similares a la exaltación de Pound, la escritura de la poesía clásica china. Nos interesa revisar algunos inventarios de los rasgos de la dicción poética china y japonesa que explican por qué se toma como metonimia y metáfora de la poesía, o como meta y utopía de la poesía, para comprender qué llevó a muy diferentes autores a intentarlo en haikus, proceso en el que probaremos algunas formulaciones poéticas en portugués. Consideramos también que esta fascinación por un origen (soñado) de la dicción poética, al cruzarse con el habitar (no metafórico, en este caso) del diminuto enclave de Macao, por parte de autores que en él arraigaron, resultó en poemas particularmente interesantes. En este acercamiento se traerán poemas de Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner, José Tolentino Mendonça, Yao Feng, Fernanda Dias y Fernando Sales Lopes.</description><subject>LITERATURE, ROMANCE</subject><issn>1517-106X</issn><issn>1807-0299</issn><issn>1807-0299</issn><fulltext>true</fulltext><rsrctype>article</rsrctype><creationdate>2022</creationdate><recordtype>article</recordtype><recordid>eNo9kc1KxDAUhYsoOI4-gZs8gHXy0193MvgHIy5UcFfS5HbM0DYlaWX0dVyIAy5c-AR9MdOZ0UXI4fKdc-Fczzsm-JSEKZ6QkMQ-wdFyQjGlNKCE7XgjkuDYxzRNd53eEk_73oG1C4xZTAI68r5vtexK3n_0P2ARVKjRpu3mXb-ySAJSFZ9DbU8QLBswql_VQnHHIbAt2EFqo6BuubJnyMCLsv27RtLNDX9bR0qNCm5F_1UrPSTyct5VHEkl3E7HNrr_bJXgSDyrGix32Qve6LUUutKoa3WjnIE7dFh56O0VvLRwtP3H3uPlxcP02p_dXd1Mz2e-IDRhvsQ5YTxNZRBKXAQ4ppJwkZMixDmTBVCZRxAViRNRElI3F5iFBYSCycARbOydbnKtUFDqbKE7U7uF2f3QZTZ0OZSNMXaPMuoMbGMQRltroMga4_ozr47NhjNlf8Zl9n8m9gs8Io6U</recordid><startdate>202208</startdate><enddate>202208</enddate><creator>Borges, Vera</creator><general>Programa de Pos-Graduação em Letras Neolatinas, Faculdade de Letras -UFRJ</general><scope>AAYXX</scope><scope>CITATION</scope><scope>GPN</scope><orcidid>https://orcid.org/0000-0003-3893-7360</orcidid></search><sort><creationdate>202208</creationdate><title>Modulações em português de imagens, experiências e estesias orientais: revisão das razões do fascínio de alguma dicção poética chinesa e japonesa como utopia da poesia</title><author>Borges, Vera</author></sort><facets><frbrtype>5</frbrtype><frbrgroupid>cdi_FETCH-LOGICAL-c1283-d0b13a99d45d0f4072d1acb1f50b3dfe2db6e6f8e2d68521f5c035fe5c3d4b3d3</frbrgroupid><rsrctype>articles</rsrctype><prefilter>articles</prefilter><language>por</language><creationdate>2022</creationdate><topic>LITERATURE, ROMANCE</topic><toplevel>peer_reviewed</toplevel><toplevel>online_resources</toplevel><creatorcontrib>Borges, Vera</creatorcontrib><collection>CrossRef</collection><collection>SciELO</collection><jtitle>Alea : estudos neolatinos</jtitle></facets><delivery><delcategory>Remote Search Resource</delcategory><fulltext>fulltext</fulltext></delivery><addata><au>Borges, Vera</au><format>journal</format><genre>article</genre><ristype>JOUR</ristype><atitle>Modulações em português de imagens, experiências e estesias orientais: revisão das razões do fascínio de alguma dicção poética chinesa e japonesa como utopia da poesia</atitle><jtitle>Alea : estudos neolatinos</jtitle><addtitle>Alea</addtitle><date>2022-08</date><risdate>2022</risdate><volume>24</volume><issue>2</issue><spage>232</spage><epage>259</epage><pages>232-259</pages><issn>1517-106X</issn><issn>1807-0299</issn><eissn>1807-0299</eissn><abstract>Resumo O fascínio do Ocidente pela dicção poética oriental está atestado em várias latitudes e línguas, e resultou numa profícua produção na área da poesia. Sabe-se que a reinvenção da poesia chinesa da autoria de Pound, em grande medida na origem da sua proposta de revolução do idioma poético, nas primeiras décadas do séc. XX, assentou, na verdade, numa falácia; numa concepção errada da natureza da escrita chinesa (e japonesa) como essencialmente pictográfica e ideogramática, na base de propriedades expressivas reconhecidas na poesia que resultariam numa particular eficácia na apreensão e tradução do real. Pessanha enaltece, em termos similares aos da exaltação poundiana, a escrita da poesia chinesa clássica. Interessa-nos rever alguns inventários dos traços da dicção poética chinesa e japonesa que explicam que ela seja tomada como metonímia e metáfora da poesia, ou como meta e utopia da poesia, para perceber o que terá levado autores muito díspares a tentar a mão nos haikus, processo em que sondaremos algumas formulações poéticas em língua portuguesa. Consideramos também que esse fascínio por uma (sonhada) origem da dicção poética, quando cruzada com o habitar (não metafórico, neste caso) do pequenino enclave de Macau, de autores que nele lançaram raízes, resultou em alguns exercícios poéticos particularmente felizes e singulares. Serão trazidos à colação nesta abordagem poemas de Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner Andresen, José Tolentino Mendonça, Yao Feng, Fernanda Dias e Fernando Sales Lopes.
Abstract Western fascination for Eastern poetic diction is vastly documented, in several latitudes and languages, and has resulted in an impressive output in the field of poetry. It is known that Pound’s reinvention of Chinese poetry, largely at the origin of his proposal for a revolution in the poetic language, in the first decades of the 20th century, was actually based on a fallacy: on a misconception of the nature of Chinese (and Japanese) writing as essentially pictographic and ideogrammatic, based on expressive properties recognized in poetry that would prove to be particularly effective in the apprehension and translation of the real. Pessanha praises the writing of classical Chinese poetry in terms similar to the Poundian exaltation. We will review some inventories of the features of Chinese and Japanese poetic diction that explain why it is taken as a metonymy and metaphor of poetry, or as a goal and utopia of poetry, in order to understand what led very different authors to try their hand at haikus. Along this process, we will probe some poetic formulations in Portuguese. We also consider that this fascination with a (dreamed of) origin of poetic diction resulted in very interesting poems, when crossed with the (non-metaphorical, in this case) inhabiting of the tiny enclave of Macau, by authors who settled there. In this approach we will comment on poems by Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner, José Tolentino Mendonça, Yao Feng, Fernanda Dias and Fernando Sales Lopes.
Resumen La fascinación occidental por la dicción poética oriental está atestiguada, en diversas latitudes y lenguas, y se tradujo en una fructífera producción en el campo de la poesía. Se sabe que la reinvención de la poesía china por parte de Pound, en gran parte en el origen de su propuesta de revolución del lenguaje poético, en las primeras décadas del siglo XX, se basó en realidad en una falacia: en una concepción errónea de la naturaleza de la escritura china (y japonesa) como esencialmente pictográfica e ideogramática, basada en propiedades expresivas reconocidas en la poesía que redundarían en una particular eficacia en la aprehensión y traducción de lo real. Pessanha exalta, en términos similares a la exaltación de Pound, la escritura de la poesía clásica china. Nos interesa revisar algunos inventarios de los rasgos de la dicción poética china y japonesa que explican por qué se toma como metonimia y metáfora de la poesía, o como meta y utopía de la poesía, para comprender qué llevó a muy diferentes autores a intentarlo en haikus, proceso en el que probaremos algunas formulaciones poéticas en portugués. Consideramos también que esta fascinación por un origen (soñado) de la dicción poética, al cruzarse con el habitar (no metafórico, en este caso) del diminuto enclave de Macao, por parte de autores que en él arraigaron, resultó en poemas particularmente interesantes. En este acercamiento se traerán poemas de Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner, José Tolentino Mendonça, Yao Feng, Fernanda Dias y Fernando Sales Lopes.</abstract><pub>Programa de Pos-Graduação em Letras Neolatinas, Faculdade de Letras -UFRJ</pub><doi>10.1590/1517-106x/202224213</doi><tpages>28</tpages><orcidid>https://orcid.org/0000-0003-3893-7360</orcidid><oa>free_for_read</oa></addata></record> |
fulltext | fulltext |
identifier | ISSN: 1517-106X |
ispartof | Alea : estudos neolatinos, 2022-08, Vol.24 (2), p.232-259 |
issn | 1517-106X 1807-0299 1807-0299 |
language | por |
recordid | cdi_scielo_journals_S1517_106X2022000200232 |
source | Elektronische Zeitschriftenbibliothek - Frei zugängliche E-Journals |
subjects | LITERATURE, ROMANCE |
title | Modulações em português de imagens, experiências e estesias orientais: revisão das razões do fascínio de alguma dicção poética chinesa e japonesa como utopia da poesia |
url | https://sfx.bib-bvb.de/sfx_tum?ctx_ver=Z39.88-2004&ctx_enc=info:ofi/enc:UTF-8&ctx_tim=2025-02-03T10%3A50%3A02IST&url_ver=Z39.88-2004&url_ctx_fmt=infofi/fmt:kev:mtx:ctx&rfr_id=info:sid/primo.exlibrisgroup.com:primo3-Article-scielo_cross&rft_val_fmt=info:ofi/fmt:kev:mtx:journal&rft.genre=article&rft.atitle=Modula%C3%A7%C3%B5es%20em%20portugu%C3%AAs%20de%20imagens,%20experi%C3%AAncias%20e%20estesias%20orientais:%20revis%C3%A3o%20das%20raz%C3%B5es%20do%20fasc%C3%ADnio%20de%20alguma%20dic%C3%A7%C3%A3o%20po%C3%A9tica%20chinesa%20e%20japonesa%20como%20utopia%20da%20poesia&rft.jtitle=Alea%20:%20estudos%20neolatinos&rft.au=Borges,%20Vera&rft.date=2022-08&rft.volume=24&rft.issue=2&rft.spage=232&rft.epage=259&rft.pages=232-259&rft.issn=1517-106X&rft.eissn=1807-0299&rft_id=info:doi/10.1590/1517-106x/202224213&rft_dat=%3Cscielo_cross%3ES1517_106X2022000200232%3C/scielo_cross%3E%3Curl%3E%3C/url%3E&disable_directlink=true&sfx.directlink=off&sfx.report_link=0&rft_id=info:oai/&rft_id=info:pmid/&rft_scielo_id=S1517_106X2022000200232&rfr_iscdi=true |